Eu contei quinze dias... até o dia que eu disse “é hoje”. Todos os
dias eu pensava: só mais um dia. Só mais um dia pra te ver...
E ele chegou. O dia em que o despertador não precisou tocar pra que eu
me acordasse...o dia em que eu não senti fome...o dia em que as horas não
passaram, mas nesse dia eu sabia que seria recompensada...ao menos eu tentaria!
E eu não desistiria...
Eu trabalhei. Conversei...e esperei dar 9 horas da manhã pra me
dedicar somente a isso. Arrumei minha mala, separei minha melhor roupa.
Planejei cada minuto que eu tinha...até fazer o que eu devia. Ainda dormi. E
sonhei. Sonhei que não iria sequer ver você. Sonhei...ou tive um pesadelo que
não te encontraria. Então pensei: “é só uma viagem, se não der certo, eu
viajei...estava segura no ônibus...e não perderia nada.” Assim eu fui...
Esperei por horas de atrasos do ônibus. E nessas horas, em que meu coração
acelerava a cada minuto que passava, eu me acalmava, porque a espera estava
acabando. E estava ficando tudo bem...ia ficar tudo bem...logo, logo...
No ônibus eu rezei baixinho, pedindo a Deus que não chegasse tão
tarde, ou próximo da hora do ônibus de volta...queria ter tempo... e eu tinha
planejado tudo, não ia ser justo se por um atraso nada mais desse certo. Mas
não tinha nada confirmado. Eu me atirei no escuro. Mas o dia estava tão claro.
O sol estava tão lindo e forte... a viagem foi tranqüila. Apesar de a cada
quilometro eu me sentir mais perto e a cada cidade que passava diminuía a
distancia entre nós dois eu pensava o que te diria. O que inventaria pra te
fazer ir ao meu encontro. E não pensava em nada. Pronto, faltava passar mais
uma cidade e era a sua... Mais alguns minutos. E eu me decidi. Vou dizer a
verdade. E rezei de novo pra que você estivesse lá...pra que você atendesse minha
ligação...pra que você não se chateasse tanto...
Mal consegui andar pelo ônibus quando o motorista gritou o nome da
cidade. Era lá que deveria descer, mas minhas pernas não estavam me
respondendo... Estava no compasso do meu coração que agora eu nem sentia mais
de tão rápido que batia. Precisei me acalmar. Desci...fui ao banheiro. E quis
desistir agora. “Mas agora?”, pensei... não, eu não ia até ali pra desistir...
“preciso falar com você meio urgente” A mensagem foi escrita e enviada...era só
esperar... Quantos minutos seriam preciso pra que ele me desse a resposta? Não
sei...mas foram os cinco minutos mais demorados... o tempo quase paralisou. E
voltou a rodar quando o celular vibrou. Era ele me ligando. E eu pensei mais
uma vez no que dizer...e lembrei: a verdade. Com a voz muito trêmula...respirei
e pedi que não ficasse bravo, mas tinha feito uma coisa... Do outro lado da
linha, a voz séria, mas ainda assim linda (...), disse que ficaria chateado se
eu estivesse indo pra lá. Me olhando no espelho do banheiro, eu quis chorar,
mas segurei as lágrimas e sorri dizendo que não era isso...”Eu não estou indo
pra ai...eu já estou aqui!” Uma pausa sem fim tomou conta da ligação. Eu sem
acreditar que estava fazendo aquilo. E pensava em como tinha soado bonito...e
eu nem tinha planejado aquela frase. Ele sem saber o que dizer, pela
surpresa...ou por não poder mais fazer nada. Eu já estava ali. E continuei:
“Você vem me ver...ou...ou eu vou na sua casa?”... Eu sei...isso foi pressão,
não tem outro nome. Mas funcionou. Ele foi me ver.
Os dias sem ele tinham sido horríveis. Eu mal tinha sorrido, ou como
bem disse Roberto Carlos “meu sorriso era triste”. Eu emagreci... chorei...me
desesperei...me devastei... Mas quando o vi chegar, com uma barba enorme,
tentando esconder um sorriso... Àquele sorriso que eu adorava... Àquele sorriso
verdadeiro que eu conhecia muito bem...sarou todas as minhas dores. “Enxugou
minhas lágrimas”. Foi isso mesmo que aconteceu. Àquele momento já tinha valido
minha viagem. E eu tinha certeza que tinha que estar ali...
As horas ali naquele terminal foram mágicas. Conversamos, sorrimos...
brincamos...fomos nós mesmos... voltamos a ser nós mesmos. Sério que só eu
senti aquilo? Só eu senti que estava viva de novo?
Não tinha planejado nada. Mas sabia que não pediria pra voltar. Nem
pediria pra ficar comigo. Minha viagem não tinha esse objetivo. “Eu só queria
ver você”. Esse era o motivo da minha ida. Nada mais.
Me enganei então. Eu queria mais...eu queria bem mais. Eu queria um
abraço, queria àquela conversa. Queria muitas risadas... eu queria outro
abraço. Queria estar em seus braços. Mais uma vez pelo menos. “você acha justo
quatro anos terminar pelo telefone?” Eu não achava...
Eu tive tudo. Tive seus abraços...seus braços...seus sorrisos...suas mentirinhas...suas
brincadeiras... tive frio na sua cidade... tive ótimos momentos lá... nas
praças, nas ruas onde você cresceu... eu vi seus amigos. Vi seu apetite...
Comemos pizza à moda da casa. À moda da sua casa. Você me ofereceu batata
frita. Você não sabe o que isso significa não é?
Você sabia exatamente o que queria comer...onde iria me sentar...onde
queria ir...o que queria beber... sabia o que eu queria escutar... sabia sim...
A noite foi pequena. Não foi suficiente. Mas a vida seria?
Foi estranho. Doce. Sincero. Foi verdade!
Eu não peguei na sua mão por medo... eu nem disse tudo que queria. Mas
eu não queria dizer nada. Eu só queria ver você...sentir você...
Não foi nada planejado. E se tivesse sido não teria sido tão bom. Eu
não esperei que quando esse sonho acabasse você me dissesse que estava tudo
bem. Que estávamos de volta...e que seriamos felizes... Eu não me iludi. Eu
sabia que viria embora e nossa história não mudaria. E não mudou mesmo, como eu
pensei.
Na despedida um abraço longo... um abraço forte. Os últimos beijos,
ali...na frente de algumas pessoas desconhecidas que olhavam curiosas, que não
faziam a mínima idéia de como aquele momento era importante, único...Eu poderia
viver aquele minuto pela minha vida inteira, congelado...nós dois ali, juntos,
pra sempre...
“Foi o melhor dia do meu ano”, eu disse. Ele sorriu. E brincou que o
ano só tinha apenas sete dias. Mas eu menti. Foi o melhor dia da minha vida
desde o dia dezenove de novembro...
O ônibus acelerando me tirou dos seus braços. Foi tão cruel. Não deu
tempo olhar pra trás. E eu não te vi mais.
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