terça-feira, 28 de outubro de 2014

Sobre esses dias...

Na primeira vez eu já estava apaixonada. Talvez não por você. Mas pela ideia de sair da prisão de um velho amor. Ou pela possibilidade de me envolver de novo com outra pessoa. Como eu disse, você me trouxe possibilidades. Na primeira vez que você me deixou foi como um sonho ruim numa manhã de domingo, mas logo depois, quando vi que foi por amor, senti que tinha sido a coisa certa a se fazer! E de fato foi. Você deve ter vivido lindos momentos com seu antigo amor. E eu... eu estava de volta a minha prisão, fechada e decidida a não sair mais. Encontrei novos personagens que viveram simulacros de histórias de amor comigo. Foram intensos, breves, sinceros, românticos e aventureiros. Eu quase me orgulhei de mim e pensei que poderia viver tudo que quisesse. Quando você foi embora, você me deixou. No silêncio de uma ligação que eu não fiz, uma mensagem sem resposta que eu não mandei... um silêncio de vários dias que começou com um encontro que não aconteceu. Depois nós voltamos. Inesperadamente. Encontrei você em sonho, depois te vi. Eu pude ir e vir tantas vezes e encontrar você em sonhos... mas não na vida. Esse dia foi especial. Você era real de novo. Posso fechar os olhos e ver você entrando depois saindo, sem olhar pra os lados... sem me perceber. Entrei em pânico com a ideia de não ser mais vista por você e te procurei na semana seguinte. Precisei de alguns dias pra ter certeza se queria voltar ou não. E voltei. Você pareceu estar precisando de uma amiga e eu me servi disso. Você também foi um bom amigo. Depois eu me apaixonei (de novo). Não ter você era o que alimentava esse sentimento. A impossibilidade dessa história me fazia tremer sempre que te encontrava. O desejo de beijar sua boca era quase enlouquecedor, por não poder ser satisfeito. Nossos encontros, sempre cheios de assuntos, nossas conversas sem fim, eram o véu do que realmente estava pensando e querendo. Eu sabia disso. Você sabia disso. Dois tolos em pensar que isso resistiria por muito tempo. 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Lá do outro lado do mundo...

Os dois sabiam que aquela história não era real. Afinal de contas eles tinham firmado um contrato. Um contrato silencioso e imediato. Nada de apego, romantismo ou qualquer formar de sentimentalismo. Sentir saudade não seria permitido. No máximo vontade, mas saudade jamais. Eles apenas conversavam e se conheciam. Prometiam que quando pudessem iriam estreitar esse laço. De outra forma, onde o sentimento não pudesse entrar. Engraçado que esse contrato “caiu como uma luva” para os dois. Ninguém queria um relacionamento formal ou dentro das normas, cada um com seus motivos pra isso. O certo era que nenhum dos dois queria se envolver demais com ninguém. E firmar o contrato era importante. Porque coisas seriam ditas e era preciso entender que aquilo fazia parte do momento e não do todo (ele sabia disso). Foi assim que o tempo passou. E eles então construíram uma espécie de “amizade”. - Era amizade aquilo? - Ela era uma de suas amigas, ele disse um dia. Mas ele não era um amigo pra ela. Ele era uma fantasia. Uma. Fantasia. Que saiu das ideias e chegou ao real. - Mas a história era ou não era real? - Era uma coisa com o sotaque dele. Ou a forma como ele a via ou imaginava. Tinha alguma coisa com música também. Com ensinamentos. Surpresas e até uma pitada de extravagância. Tinha os segredos, as promessas. As vezes até tinha palavras bonitas, sempre seguidas de muitas risadas. Isso dificultava o entendimento: “era real?” Eles até compartilhavam problemas e trocaram conselhos e esperas. Mas isso não queria dizer nada sobre a história dos dois. Era muito mais. Não havia encaixes... não era nada especial. Era tudo tão novo e ao mesmo tempo tão casual. Era apenas uma troca. De vidas. De realidades. Eles até faziam planos e acreditavam neles. E mais uma vez esperavam. Era uma coisa de desejo. Uma coisa de pele. Eles gostavam disso. Sempre tinha uma provocação, um despertar... Era isso. Um Despertar.

13. 03. 2014
O ser humano não está pronto para histórias de amor com finais tristes ou sem finais. Isso pode ter tantos motivos como quantos sentidos quiserem. Vai de cada um. Mas a verdade é que ninguém se dispõe a ler um livro de 300 ou 600 páginas ou um filme de quase duas horas de duração sabendo que ali não vai haver momentos felizes e uma continuação que na maioria das vezes não sabemos onde vai dar, mas temos certeza de que é algo bom. E não é porque vivemos em um mundo maravilhoso ou porque somo otimistas demais. É justamente pelo contrário disso. Estamos cansados de histórias falidas, de vidas sem esperanças, de doenças incuráveis, de sonhos não realizados e de amores não vividos. Nos refugiamos nesse contos de amor, nesse romances na tentativa de viver, no que resta do personagem, a possibilidade de sorrisos, esperança e otimismo. Pode até parecer loucura, imaginar que alguém venha a fazer isso, “viver a vida de outra pessoa?”, mas a verdade é que todos nós, em algum momento, nas risadas e nos suspiros dados nas leituras, estamos vivendo, um pouquinho, dessa outra vida. Tentamos ser outra pessoa. Outra verdade é que já temos frustrações demais para comprar as dos outros.

(Depois de ler o livro "Um dia")
(Cá estou escrevendo de novo sobre um tal de você, que pode ser tanta gente. Que pode ser só um lugar.)

Ainda não consigo dizer se o que sinto é saudade ou necessidade. Essa última parece explicar bem o meu sintoma. Necessidade de ser o que sou pra você. Aqui a grande questão é “o você”. Não sei como posso denominar o sentimento que te direciono. Não sei se posso continuar brincando de “fort-da”, te empurrando e te trazendo de volta pra minha vida. Não sei até que ponto isso pode ser bom pra mim e sei que isso não vai ser nada agradável pra você. Como se eu tivesse esse controle... Eu queria ter você. Sim, isso que quero. Eu quero sua conversa, seu olhar, seu sorriso. Eu quero sua atenção. E adoro esse lugar de prestigio que você me empresta. Me cabe. Me encaixo. Mesmo sabendo que ele não é meu, eu me cego e me deleito nele. Gosto de sair com você e gosto de ser especial, sim. Gosto de ser lembrada e gosto de não ser como as outras. Gosto da sensação de não estar só. Gosto da sensação da finitude do mundo. Na outra casa. Uma parede. Um telefonema ou mensagem. E pronto! Não seria mais só. Gosto do seu cuidado. Gosto da sua análise. Gosto da sua risada, as vezes. E das suas mãos pequenas, as vezes. Gosto de ouvir o que causo em você. E me desculpe, mas gosto de causar isso em você. Gosto do seu abraço. Mas não sei se gosto do seu amor. Gosto da sua companhia, mas não sei se gosto do “por inteiro”. “É muito pesado”. “É muito forte”. E não é exagero. É muita responsabilidade. Gosto das nossas trocas. Do que aprendo, do que descubro, do que imagino, pra onde viajo... Não me pergunte o que isso quer dizer. Nem eu mesma sei. A impressão que tenho é de sufocamento. E eu preciso resolver, envolver, viver. Parece que me trouxe o frio na barriga de volta... a possibilidade, real, de transgredir essa lei que eu mesma coloquei. De ultrapassar esse grande limite e te levar até o simbólico... te deixar ser o homem que preciso. É mais como uma chance. A chance. De me tornar mulher. Você quer isso. E eu quero mais ainda. Era um plano perfeito. Tudo poderia ter dado certo. Mas essas coisas não são lógicas e pagamos caro por tentar controlar o mundo. Agora é só mais uma casa da rua. Agora é só mais um trabalho. Agora é só mais uma quarta-feira. Agora são apenas escadas...