terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Quem sabe um dia, um livro.


Esses dias precisei fazer àquela faxina. Adiei por meses. Mas o dia chegou. O dia de jogar coisas fora. Coisas velhas, em desuso. Coisas que não queria mais. Coisas que nem lembrava porque ainda estavam guardadas. E fui retirando um por um. Documentos, apostilas, diários...folhas soltas escritas em dias nebulosos. Outras folhas soltas escritas em dias felizes. Encontrei cartas que eu nunca entreguei. Encontrei contos, poemas e poesias inventados que eu nem entendia mais. Encontrei segredos que eu não sabia mais.  Foi uma manhã estranha. Cheia de recordações. Foi difícil...muito difícil. Eu estava perdida em meio a tantos papéis, a lembranças...a sentimentos... E eu fiquei fora do ar àquelas horas. Foi um tempo só meu. Revivi cinco anos em uma manhã...
Mas eu já tinha me decidido, antes mesmo de começar. Eu jogaria muita coisa fora. Tiraria as coisas velhas, as coisas que não queria mais ler, ver ou lembrar... Jogaria muitas das folhas soltas que contavam minha história no lixo. E assim o fiz.
Li algumas...lembrei onde estava quando escrevi, o que estava sentindo...outras nem cheguei mesmo a ler. Quase todas foram parar numa pilha de lixo juntamente com etiquetas, canetas, bolsas, cartazes... Joguei fora alguns cadernos que me serviam de diário. Tive vários durante esses anos. Decidi que não queria que ninguém mais lesse minha história...decidi que ninguém mais me leria...nem eu mesma.
Um em especial foi o mais difícil. Um desses cadernos contava uma história engraçada, apaixonada, às vezes triste outras vezes descoberta. Eu lembrei que decidi escrever esse “novo” diário porque queria um dia me sentar com você, num dia frio e reler nossas histórias. E rir muito de como éramos crianças e nos desculpar pelas vezes que nos magoamos. E nos lembraríamos do porque de nos amarmos tanto. Pensei em escrever tudo pra que, como nos filmes românticos, as coisas entre nós nunca fossem esquecidas.
Depois de folhear algumas páginas, me deu um medo de jogar àquilo fora. Me deu uma sensação de estar jogando fora nossas histórias. Fiquei com medo de um dia querer aquilo de volta e não poder mais porque estaria no lixo. Fiquei com medo de um dia ter vontade de reler aquilo com você e lembrar o dia em que joguei fora, juntamente com mais algumas outras lembranças. Depois desse devaneio voltei a mim...eu não estava mais com você. Eu não tinha mais como esperar por esse futuro dia se nem ao menos eu tinha você no meu presente. O “livro” que contava nossa história foi pra o lixo. Com medo de ser idiota por esperar... e em um súbito segundo de lucidez ele foi parar na pilha que não faria mais parte da minha vida.
Revi outras coisas. Joguei fora tantas outras partes de mim.
Enfim, terminei minha pequena – grande faxina.
Já estava terminada. Tudo separado. Tudo que não queria mais foi pra o lixo. E eu não veria, nem sentiria mais nada daquilo.


Voltei atrás. Peguei o meu livro da nossa história. Guardei em um lugar seguro pra que ninguém lesse. E voltei a esperar.

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